Enquanto inúmeros espaços públicos carregam nomes de homens, quantos lugares homenageiam mulheres? Partindo desse questionamento, o projeto “Narrativas Femininas”, através do grafite e da tecnologia, visa resgatar, reverenciar e materializar a memória sociocultural de mulheres que dedicaram suas vidas à cultura do Norte Fluminense. Destacando-se por ser 100% composto e executado por artistas mulheres, este será um dos primeiros murais de grafite com realidade aumentada no Norte do Estado do Rio de Janeiro.
Realizado pela Outrar Produções, o projeto foi executado ao longo do mês de agosto de 2024, em homenagem ao Agosto Lilás, campanha de combate à violência contra a mulher. Serão 150 m² grafitados no muro da Rua Silva Jardim, nº 505 — o muro que fica exatamente em frente ao Supermercado Extra do Centro de Macaé. A entrega oficial do mural será neste sábado (28).
Entre centenas de mulheres que marcaram a história da sociedade norte fluminense, nove personalidades foram escolhidas, baseando-se na relevância de suas contribuições, tanto localmente quanto nacionalmente, colocando Macaé na rota cultural do país. Essas mulheres, muitas vezes esquecidas pelos livros de história e pouco reconhecidas na região, terão suas contribuições finalmente celebradas nesta intervenção artística.
Permitindo que os cidadãos conheçam a história e a simbologia das obras para o município, cada imagem terá um QR Code que, quando escaneado, revelará páginas com obras das artistas, transformando a pintura em uma experiência interativa.
O idealizador do projeto Marcelo Fonseca explica que a motivação surgiu a partir de seu incômodo com a ausência da preservação da memória feminina nos espaços urbanos.”Esse apagamento proposital da memória gera falta de representatividade e contribui para o status quo. O movimento do grafite ainda é misógino, e me vejo no dever de assumir um papel ativo ao propor um projeto como esse, homenageando narrativas femininas com execução feita 100% por mulheres”, conta.
O projeto traz benefícios culturais e sociais, promovendo o grafite e a arte urbana e revitalizando espaços urbanos. Além disso, fortalece o empoderamento feminino e destaca a importância das mulheres para o avanço social, como destaca a produtora executiva Aline Barbosa: “Macaé tem uma grande importância na cena do grafite, tanto na região quanto no país. Tem artistas reconhecidos internacionalmente e eventos com grande tradição. Mas essa é uma das primeiras vezes que teremos um projeto realizado com protagonismo feminino. É exatamente aí que reside a importância da realização desse projeto: mostrar que a cena da nossa cidade também é construída por mulheres potentes e talentosas.”
Serão 3 artistas participantes, todas residentes de Macaé, sendo elas Loo Stavale, 7inkermell e Karoll Castro. A artista visual Loo Stavale comenta que participar de um projeto que homenageia mulheres com grande legado nana cultura do Norte Fluminense é uma grande responsabilidade e uma oportunidade de poder aprender e se aprofundar mais na vida de mulheres grandiosas desta região. “É uma chance de me inspirar com essas histórias e transmitir, através do meu trabalho, a importância de nós, mulheres, seguirmos persistindo em nossas carreiras profissionais”, reflete.
A grafiteira e multiartista 7inkermell acrescenta que a representatividade feminina no mundo das artes urbanas é fundamental. “Portanto, a representatividade aproxima as pessoas de realidades que às vezes elas julgam distantes de si. Eu mesma por muito tempo busquei representatividade em vários setores da sociedade e não encontrava. Eu julgo o mundo do grafite como extremamente machista e é por isso que eu sigo aqui resistindo e através da minha imagem dizendo a tantas outras meninas que é possível. Grafite também é coisa de mulher!”, ressalta.
A arte tem o poder de comunicar, emocionar, impactar e registrar, como destaca a muralista Karoll Castro. “A pluralidade do mural em representar diferentes estilos de vida, visões de mundo e propósitos será capaz de falar mais alto que qualquer palavra. Desejo que diversas pessoas se sintam representadas e enxergadas em suas lutas e desejos”, conclui.