Você já parou para pensar como o raio laser se tornou essencial em cirurgias, tratamentos oculares, odontologia e exames de alta precisão? Mas sabia que essa revolução nasceu do trabalho de um cientista brasileiro: um gênio da física reconhecido mundialmente, que mantinha laços afetivos com a cidade de Macaé.
Foi graças ao brasileiro Sérgio Pereira da Silva Porto que essa revolução aconteceu. Físico brilhante e pioneiro, ele foi o responsável por adaptar o uso do raio laser para a medicina, um feito que o colocou entre os maiores físicos do século XX e entre os 100 brasileiros mais importantes de todos os tempos.
Filho de pescadores de Niterói (RJ), Sérgio se formou em Química aos 20 anos na antiga Faculdade Nacional de Filosofia (FNFi) da Universidade do Brasil, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Pouco tempo depois, embarcou rumo aos Estados Unidos, onde iniciou o doutorado em Física na prestigiada Universidade Johns Hopkins, em Baltimore.
Nos anos 1960, ingressou no prestigiado Bell Labs, em Nova Jersey, onde protagonizou uma das maiores descobertas científicas do século: adaptou a recém-desenvolvida tecnologia do raio laser à espectroscopia Raman, permitindo sua utilização na medicina com um grau de precisão jamais visto.
Essa inovação revolucionou a análise laboratorial, tornando-a mais rápida e precisa, e foi além: abriu as portas para a aplicação do laser na medicina, possibilitando diagnósticos e tratamentos com um nível de precisão inédito. Hoje, essa descoberta está presente em procedimentos que salvam vidas diariamente, desde cirurgias oftalmológicas com correção de retina até intervenções minimamente invasivas em órgãos vitais.
Ao retornar ao Brasil, em 1954, também teve papel essencial no desenvolvimento científico no país: fundou o Departamento de Eletrônica Quântica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). E foi lá que seu nome, mais uma vez, virou referência mundial com a criação da “Notação de Porto” e sua atuação rendeu mais de 140 publicações científicas.
Apesar de ter vivido mais de 20 anos no exterior, Sérgio Porto mantinha vínculos com Macaé, onde parte de sua família se estabeleceu. Seu sobrinho, Haroldo Pereira da Silva Porto Júnior, nascido e criado na cidade, relembra com orgulho as visitas do tio: “Minha primeira bicicleta foi trazida dos EUA por ele. Ele vinha nos ver sempre que estava no Brasil. Era um orgulho para toda a família”.
Haroldo, que hoje trabalha como geógrafo no Escritório de Gestão, Indicadores e Metas (EGIM) da Prefeitura, lamenta que tão poucos brasileiros conheçam o legado do tio: “É triste ver como um gênio como ele ainda é pouco reconhecido no próprio país. Foi ele quem adaptou o laser para a medicina, não foi um norte-americano, japonês ou alemão. Foi um brasileiro”.
Sérgio Porto faleceu precocemente em 1979, aos 53 anos, após um infarto durante um congresso na Sibéria. Ele foi sepultado no Cemitério de Nossa Senhora da Conceição, no bairro Barreto, em Niterói, sua cidade natal. Em 1980, a Unicamp realizou um congresso internacional em sua homenagem, reunindo os maiores físicos da época. Seu nome está eternizado também em uma praça e um colégio da instituição.
Sua história inspira não só o Brasil, mas especialmente Macaé, que carrega com orgulho o vínculo com esse nome gigante da ciência mundial.
📸: Acervo da família