José Alberto Mujica Cordano, conhecido mundialmente como Pepe Mujica, morreu nesta terça-feira (13), aos 89 anos, em sua chácara nos arredores da capital uruguaia. O ex-presidente enfrentava um câncer de esôfago em estágio terminal desde abril de 2024. Em janeiro deste ano, ele revelou que a doença havia se espalhado por outros órgãos e, por decisão própria, interrompeu os tratamentos, passando a receber apenas cuidados paliativos.
Mujica se tornou uma das figuras mais emblemáticas da política latino-americana por sua trajetória singular. Militante desde a juventude, integrou o Movimento de Libertação Nacional-Tupamaros, grupo guerrilheiro de esquerda que combateu a ditadura militar no Uruguai. Em 1972, foi capturado e passou quase 15 anos na prisão, muitos deles em regime de isolamento. Ele relatava com frequência que a experiência moldou sua visão de mundo e ensinou-lhe a viver com o essencial.
Após a redemocratização do país, Mujica ajudou a fundar o Movimento de Participação Popular, integrado à Frente Ampla, e seguiu carreira política. Foi deputado, senador e, em 2005, ministro da Pecuária, Agricultura e Pesca. Em 2010, foi eleito presidente da República, permanecendo no cargo até 2015.
Durante seu governo, implementou reformas progressistas que atraíram atenção internacional. Entre elas, a legalização da maconha, a aprovação do casamento entre pessoas do mesmo sexo e a descriminalização do aborto até a 12ª semana de gestação. Mujica ficou famoso também pelo estilo de vida austero: recusou morar no palácio presidencial, dirigia um Fusca azul e doava parte significativa de seu salário para causas sociais.
Pepe Mujica nasceu em 20 de maio de 1935, em Montevidéu, em uma família de classe média baixa. Estudou Direito por alguns anos, mas abandonou o curso para se dedicar à militância política. Ao lado da esposa, Lucía Topolansky, também ex-senadora e militante de longa data, construiu uma trajetória marcada pela coerência entre discurso e prática.
Seu legado ultrapassa fronteiras políticas e geográficas. Mujica será lembrado não apenas como o presidente mais humilde do mundo, mas como um líder que desafiou convenções e mostrou que é possível governar com simplicidade, ética e empatia.